sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ainda preso no armário.

- Eu não curto beijar com quem transo - disse eu.
- Tudo bem, então. Vamo continuar assim mesmo.
Mentira. Na verdade eu até gosto de beijar o cara com quem transo, isso quando vale a pena. Isso quando eu realmente me sinto atraído por ele (o que nem sempre acontece). Odeio aqueles que ainda insistem pedindo "só um beijinho, vai". O melhor mesmo é ser suave e dizer que não curto. E dessa vez, na semana passada, ficamos só no oral, depois no anal (eu fui ativo). Ele queria ser ativo mas fiquei com medo do pênis dele que era grande e grosso. Às vezes fico pensando que o melhor mesmo é ter um pênis de 17 cm porque cabe em todo buraco... Ser bem dotado pode ser um desastre sexual.


Falando em desastres, lembro de uma vez em que o Matheus estava em sua bicicleta azul escura em alta velocidade no meio da rua. Eu e outros amigos gritávamos: "Mais rápido! Mais rápido!". Ele devia estar se sentindo o super homem, pedalando cada vez mais. Subiu em uma calçada e olhou pra trás. Coitado. Quando voltou-se para frente, bateu com tudo num muro cheio de pedrinhas apregadas. Eu e meus amigos corremos para ajudar.

Matheus se levantou com um corte na testa, as pernas arranhadas e os braços ralados. Sua roupa logo ficou manchada com seu sangue. Ele não chorava, mas estava com os olhos cheios de lágrimas. Rapidamente o levamos, quase arrastando-o, para a sua casa. A tonta da sua tia ainda brigou com ele, dizendo que aquilo foi de propósito para dar trabalho. Idiota...

Matheus passou uns três dias de castigo dentro de casa, sem poder sair, a não ser que fosse para a escola. Pelo menos eu ainda podia ficar lá com ele. Sim, ficar. Enquanto assistíamos filmes a tarde, sempre rolava um beijo, um carinho. O melhor de tudo é que parecia que sentíamos cada vez mais prazer em fazer aquilo. Para você que está lendo tudo isso, pode parecer bem estranho duas "crianças" de 13 anos fazendo essas coisas. Beijos, preliminares... Mas cada vez mais as "crianças" estão fazendo isso, não duvidem. Começam conhecendo o próprio corpo e depois o do amigo ou da amiga. Eu acredito que mais da metade da população mundial é, no mínimo, bissexual, só que alguns não aceitam isso logo no início da adolescência e acabam reprimindo dentro de si o gosto por pessoas do mesmo sexo. E conseguem mesmo reprimir isso e levar uma vida normal.

Mas e nós que não conseguimos? Nós gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais, travestis, drag queens, transgêneros. Alguns de nós temos uma vida sexual exageradamente movimentada. Outros ficam no armário e transam algumas vezes, alguns dias no mês ou poucos dias no ano. Outros passam a vida sentindo-se atraidos por ambos os sexos mas preferem permanecer do lado socialmente mais aceito (pseudo-heterossexuais). Mas admiro os que se assumem, pois têm coragem de demonstrar quem realmente são. Mesmo com o preconceito ainda muito grande, essas pessoas continuam vivendo. Se melhor do que antes, eu não sei. Mas continuam.

E eu também continuo. Não me assumi e nem pretendo, mas continuo vivendo. É triste você se olhar no espelho e analisar a figura do outro lado. É um eu diferente. Alguém que está dentro do seu próprio corpo, que vive lhe sussurrando coisas e pedindo pra sair. Chega a ser sufocante fazer coisas que você não quer, mas que as pessoas que lhe cercam querem.

(*ouvindo Kiss Me da banda Sixpence None The Richer*)

Quem não quer correr o risco de sair do próprio casulo, corre o risco de ser sufocado por ele. Ficamos então no armário. Abrimos discretamente a porta e olhamos pela fresta. Fechamos novamente e voltamos para a escuridão do armário.

E o Matheus? Também no armário. O incrível é que, mesmo com tanta intimidade que tivemos, mesmo conhecendo cada centímetro do corpo um do outro, só fizemos sexo anal uma vez em oda a nossa vida. Pelo menos um com o outro (porque com outros homens, posso dizer que EU já fiz... já ele, não sei). Os olhos expressivos dele sempre me disseram que eu fui o único HOMEM em sua vida. Seus braços que, desde que me lembro, eram peludos, sempre quiseram me tocar como se fosse a primeira vez. E a boca que EU sempre beijei...

E depois de tantos anos, depois de praticamente seis anos como amantes um do outro, a chama continua acesa. Como eu já disse, gosto de chamar isso de amor. Mas tenho medo que seja amor. Poderia ser só paixão, uma paixão que nunca terminasse. Algo que fosse eterno.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Beijo debaixo da cama.

Tenho a impressão de que preciso de uma namorada. Não de uma namorada heterossexual, mas de uma lésbica. Sim, porque aí com certeza não haveria riscos de disputarmos homens ou mulheres, e também confiaríamos segredos íntimos, profundamente íntimos. Eu sempre achei lesbianismo bastante interessante, pra não dizer belo. Mas enfim, estar com uma mulher ao lado é sempre bom para a própria imagem. Os outros querem te ver assim. E com uma namorada lésbica, tanto eu como ela estaríamos unindo o útil ao agradável.

Voltando à mesa...

Matheus estava excitado, rigidamente excitado. Eu não contive o riso discreto, nem ele. Continuamos a comer o bolo, continuamos a brincar. Nós, dois adolescentes bem novinhos descobrindo o sexo. Ou os sexos.

A partir de então, sempre que nos víamos eu sentia uma louca vontade de pegar nele. Naquele tempo não me importava mas hoje me questiono o motivo de apenas eu pegar nele, e não ele em mim. Tudo bem, isso no mundo GLBTTT (não sei pra que tanto T, bastava GLS) se chama "ativo" e "passivo".

Apreciávamos a companhia um do outro, mesmo sendo ainda bem jovens para sabermos disso. Mesmo sendo grandes amigos, mas talvez por isso nos tornamos tão íntimos. E com pouco tempo eu já fazia carícias nele. Passava a mão sobre seu pescoço, sua barriga, suas pernas. Ele gostava de segurar na minha mão. Interessante isso, vai ver que ele se sentia seguro quando estava assim comigo. Seus braços já eram bem peludinhos e ele sabia que eu adorava puxar levemente os pêlos.

Engraçado que às vezes quando ia dormir, eu me perguntava se não estava pecando. Naquela época eu tinha o hábito de rezar sempre antes de dormir. Acho que nunca vou entender bem isso de ser ou não ser pecado porque a Bíblia diz que é ou não é. O que eu sei é que Deus (ou seja qual for o nome que as religiões usem), se realmente existir, não quer ódio e mal. E o que eu e Matheus fazíamos não era fruto de ódio nem de maldade. Era inocente, mas depois passou a ser belo, muito belo. E lindo.

Páro agora e me pergunto como ninguém nunca nos pegou no flagra... Como nunca viram eu o tocando e vice-versa. Talvez porque sua mãe trabalhava o dia todo e ele ficava em casa com a tia (que não saía da frente da TV um minuto) e a irmã (acho que naquela época ela tinha uns 7 anos ou 6). E na minha casa geralmente não tinha muita gente também. Enfim, chamemos de sorte.

Uma vez brincávamos com sua irmã dentro da casa dele. Nos escondíamos para que ela tentasse nos encontrar. Não esqueço de quando ficamos debaixo da cama da mãe dele, bem apertadinhos, e nos beijamos pela primeira vez. É, talvez tínhamos 14 anos. Nos beijamos silenciosa e demoradamente, um beijo inocente mas quente, muito quente. Dia inesquecível, aquele...

Falando em beijos, voltando um pouco ao presente. Quando conheço algum cara e tenho uma breve relação sexual com ele (entenda-se apenas uma transa), não gosto de beijá-lo. Por mais bonito que seja, por mais limpinho, cheiroso ou bem vestido que seja. Pode parecer estranho, mas acho mais fácil fazer sexo do que beijar. Às vezes tenho essas loucuras mesmo...

De volta ao passado.
Aquele beijo debaixo da cama foi caloroso, literalmente, porque começamos a suar. Depois do primeiro beijo, evoluímos, evoluímos. É, posso dizer que chegamos ao ápice, ou talvez ao início do mesmo. Quem sabe o ápice não é maior que o próprio início...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um.

Tínhamos mais ou menos 13 anos quando começou. Eu poderia ter evitado, já que a iniciativa foi minha. Bom, na verdade não foi algo concreto e realizado. Jogávamos vídeo-game, num Super Nintendo (éramos viciados) algum jogo de corrida ou de luta (algum clássico, talvez Mortal Kombat ou Street Fighter). Tudo bem, voltando. Estávamos no sofá, eu e ele.

- Perdeu! - gritou e em seguida gargalhou.

- Meu controle tá com defeito, assim não vale! - reclamei, mentindo e rindo também.

Dei um soco no braço dele e ele me empurrou, tudo na brincadeira. Então começamos a nos empurrar, até que ele pulou em cima de mim e começou a cutucar minha barriga para fazer cóssegas. E foi aí que começou...

Tentando me desvencilhar do seu "ataque", me debatia no sofá e meu pé chegou até o meio das pernas dele. Mas não com força, não para dar um golpe baixo. Lembro que ele ria com aquilo. Meu pé se "enroscava" no órgão dele por cima de sua roupa.

Éramos muito jovens e aquilo não passava de brincadeira (pelo menos por enquanto). Não nego que sentia uma pequena atração por ele, mas é bem verdade que eu não sabia o que significava essa atração.

Eu, Gui. Ele, Matheus.

Tínhamos em torno de 9 ou 10 anos quando nos conhecemos. Lembro-me ainda disso muito bem. Ele era o vizinho novo da casa ao lado. Eu era um garoto sozinho (já tinha um irmão de 1 ano, mas ele morava com minha mãe em outra cidade). Ele tinha muitos brinquedos. Eu tinha um quintal enorme onde passava o dia com meus brinquedos. Pontos convergentes ou divergentes? (...)

Nos conhecemos quando sua mãe veio à minha casa pedir para que eu passasse um dia lá. Fui e não me arrependo até hoje. Muita coisa na minha vida (senão ela toda) seria diferente se eu não tivesse ido. Nossa amizade se formou e se firmou.

Guilherme e Matheus. Os dois melhores amigos, os dois vizinhos, os dois futuros amantes.
O que sinto por ele hoje é fruto de uma verdadeira amizade, de um sentimento confuso que talvez não seja amor e que possivelmente não tenha bem um nome. Mas eu gosto de chamar de "amor". Há pouco menos de um ano descobri que sentia mesmo isso.

Saltando no tempo, do passado "distante" para o menos "distante". Voltando ao sofá.
Matheus sorria quando meu pé tocava, por cima de suas vestes, o seu órgão. Aquela brincadeira era legal. Eu gostava, ele também. Por que não fazê-la mais vezes? É, eu fiz.

Como ele morava na casa ao lado, nos víamos todos os dias, de segunda a segunda. Nas outras vezes em que jogamos video-game não foi diferente. Na primeira oportunidade estávamos com a nossa "brincadeira" (13 anos, hormônios saltando pelos olhos, amizade criando cores). Eu não me via como gay, ele também não.

Lembro-me muito bem de uma vez em que sentamos no chão para assistir um filme da "Sessão da Tarde", algum filme de romance. Já perto do final do filme, Matheus estava com as pernas sobre as minhas. Olhei para ele, ele me olhou. Sorrimos. Eu já começava a me excitar quando estávamos bem próximos em momentos assim.

Acho que um ano depois a nossa brincadeira deixou de ser brincadeira. Tornou-se algo como um desejo, uma vontade de fazer para sentir algo. E foi então que, quando comíamos um bolo sentados na mesa, eu não resisti. E não me refiro ao bolo. Estiquei minha perna por baixo da mesa para alcançá-lo. Meu pé tocou o meio de suas pernas. E ele estava excitado...